História e missão

Claudete Costa, 45 anos, é mulher, negra, mãe de três filhos, avó, cristã e está catadora de materiais recicláveis há 36 anos. Moradora da Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, sua vida é um testemunho de resistência, fé e superação.

Nascida em uma família humilde, Claudete viveu sua infância e adolescência em situação de rua, junto com a mãe e dois irmãos. Para ajudar no sustento, começou cedo a trabalhar: aos 10 anos, catava materiais recicláveis à noite e, durante o dia, vendia doces enquanto a mãe mantinha uma barraca de camelô no centro do Rio.

Aos 13 anos, sua vida foi marcada por um dos crimes mais brutais da história do Brasil: a Chacina da Candelária (1993). Naquela madrugada, oito crianças e adolescentes em situação de rua foram assassinados por policiais em frente à Igreja da Candelária. Claudete só sobreviveu porque, como castigo da mãe, estava separando materiais recicláveis em uma cooperativa próxima.

A catação, que começou como sobrevivência, se transformou em seu caminho de dignidade e espaço de construção política. O trabalho garantiu o pão de cada dia e a criação de seus filhos, mas também foi o ponto de partida para a militância em defesa da categoria.

Em 2001, aos 21 anos, fundou a Cooperativa Reciclando para Viver, no centro do Rio de Janeiro, fruto da convivência com catadores em situação de rua e do sonho coletivo de construir um espaço digno de trabalho e reconhecimento. O projeto nasceu inspirado pela sua participação no curso Jovem Liderança, onde aprofundou os conhecimentos sobre políticas públicas para populações vulneráveis.

Claudete logo se destacou como liderança. Foi presidenta da CoopRVE (Cooperativa de Catadores) e tornou-se a primeira mulher representante do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis no Rio de Janeiro (MNCR/RJ).

Em 2012, foi eleita presidenta do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), ampliando sua militância em defesa da categoria em todo o Brasil. Desde então, tem atuado pelo reconhecimento dos catadores como trabalhadores essenciais, defendendo políticas públicas, direitos iguais e salários dignos.

Com firmeza política, Claudete sempre reforça: o objetivo não é apenas ocupar espaços, mas garantir que catadores e catadoras possam “sentar à mesa de igual para igual”, inspirando novas gerações a se reconhecerem como sujeitos políticos.

Atualmente, Claudete é presidenta da Unicopas (União Nacional das Organizações Cooperativistas Solidárias do Campo e da Cidade), representando a UniCatadores. Também integra a coordenação estadual e nacional da categoria. Sua luta está voltada para:

• o reconhecimento e valorização do trabalho dos catadores.

• a inclusão socioeconômica e a remuneração justa pelos serviços ambientais prestados.

• o fortalecimento dos empreendimentos de economia solidária.

• a criação de centros de economia solidária no Rio de Janeiro.

• o enfrentamento do racismo e sexismo em todos os espaços.

Claudete se converteu aos 21 anos e foi ungida diaconisa em seu ministério. Enxerga na fé cristã a fonte de força e direção para sua caminhada. Para ela, Deus é o que restaura e fortalece, e o respeito é o princípio fundamental da vida: respeitar para ser respeitada.

Da infância nas ruas à presidência de uma das maiores entidades do cooperativismo solidário no Brasil, a trajetória de Claudete Costa é símbolo de coragem, fé e esperança. Sua história denuncia a violência e a desigualdade, mas também anuncia a potência transformadora dos catadores e catadoras organizados.

“Eu sou a resistência. Eu sou a superação. Eu sou Claudete Costa.

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