Claudete Costa: direitos humanos e justiça ambiental no Brasil

5/8/2024

Ela viveu a maior parta da sua infância nas ruas do Rio de Janeiro. Desde os seus oito anos, vendia doces durante o dia para ajudar na renda da família. À noite, ganhava dinheiro coletando e revendendo materiais recicláveis. Aos doze anos, sobreviveu ao trágico massacre de Candelária, onde milicianos abriram fogo contra crianças e adolescentes em situação de rua. Oito pessoas morreram. Estes foram os primeiros capítulos da vida da ativista brasileira de direitos humanos e ambiental Claudete Costa (44). “Minha vida é sinônimo de ‘superação'”, diz ela. Palavras que ilustram sua notável resiliência e determinação.

Hoje em dia, além de mãe dedicada e avó orgulhosa, Claudete está uma líder na luta pela igualdade e justiça para os milhares de catadores no Brasil. Esses trabalhadores vem durante anos lutando para reconhecimento por sua contribuição para a indústria de reciclagem.

Lutar por melhores condições de trabalho

“O trabalho do catador é de enorme importância social e ambiental”, diz Claudete. “Só na indústria de reciclagem brasileira, geramos mais de um bilhão de reais por ano. Mas você acha que esse dinheiro vai para os catadores?” Ela balança a cabeça lentamente. “Somos excluídos da prosperidade que o mercado de reciclagem gera. São as grandes empresas de reciclagem, para quem vendemos nossos materiais coletados, que ganham esse dinheiro. Enquanto tem catadores nem sequer tem comida suficiente ou um teto sobre suas cabeças.”

Como representante de sua comunidade, Claudete luta por melhores condições de trabalho, educação e treinamento para este grupo. E mesmo que seu trabalho como ativista e líder seja às vezes frustrante, ela continua trazendo esperança aos seus colegas catadores e compartilhando uma visão de um mundo melhor. Segundo ela, essa é a essência de um verdadeiro líder.

Uma ativista e defensora da mudança

A jornada de Claudete de uma menina que trabalhava nas ruas para uma líder inspiradora começou aos vinte e um anos, quando foi convidada por uma organização sem fins lucrativos para um curso de jovem liderança. “Eu não tive a oportunidade de estudar desde jovem, então o curso de jovem liderança se tornou minha escola. Essa experiência abriu minha mente e comecei a me ver como uma ativista e defensora da mudança.”

Ela rapidamente se envolveu como militante com o Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR). Logo depois, em 2011, ela se tornou resprentante dos catadores de materiais reciclaveis do estado do Rio do Janeiro. Claudete conta: ” Foi quando realmente comecei a me destacar como uma catadora feminina. Uma mãe negra solteira da favela lutando pelo direito à igualdade.”

Hoje em dia, a ativista dedicada ainda está ativa no MNCR onde ela milita pelos catadores em situação de rua. Além disso, ela está presidente de uma cooperativa de catadores no Rio de Janeiro, ‘Reciclando Para Viver’. Aqui, Claudete lidera várias iniciativas em colaboração com os membros da cooperativa, desenvolvendo programas e projetos focados em melhorar suas condições de trabalho. A cooperativa está situada em uma galpão onde os catadores podem trabalhar com proteção adequada contra o sol e a chuva, permitindo que realizem suas tarefas de maneira mais segura e confortável.”

Não respeitar os limites da natureza

O Brasil tem mais de 10 milhões de catadores. “Eles coletam materiais recicláveis, como papel, ferro ou alumínio, nas ruas ou nos lixões. Então, isso é lixo que a sociedade não separou corretamente. Bovenkant formulier

Os catadores vendem os materiais para o setor de reciclagem, que os devolve à cadeia de produção para fazer novos produtos”, explica Claudete.

Ela continua: “Os catadores contribuem muito para o meio ambiente e para a sociedade. Mas são explorados e não têm uma renda decente. E o que faz o consumidor? Ele continua consumindo, consumindo, consumindo… sem pensar no que acontece com seus objetos descartados. Enquanto isso não afetar diretamente eles ou suas famílias, não veem necessidade de mudar seu comportamento e respeitar os limites da natureza.”

Os olhos de Claudete se enchem de tristeza. Ela continua: “Enquanto isso, o meio ambiente clama por ajuda. As florestas estão morrendo, chuvas torrenciais e rios transbordados destroem casas, nossa água potável está cada vez pior e a sociedade está crescendo tanto que invade áreas que pertencem à natureza. E muitas dessas invasões de terra não são feitas por cidadãos, mas por grandes empresas – bilionários que querem aumentar sua riqueza. Além disso, nossa dieta é precária, pois está cheia de agrotóxicos usados para acelerar o crescimento das culturas, mas que causam câncer e várias outras doenças. E então, em cada esquina, aparece uma farmácia – também um negócio muito lucrativo para os bilionários deste mundo.” Ela suspira: “Respiramos o que damos ao meio ambiente, e nós, como seres humanos, só damos poluição ao meio ambiente.”

O poder das mulheres de causar mudanças positivas

Palavras poderosas de uma mulher que sabe do que está falando. Ela testemunha diariamente a negligência das pessoas em relação à Mãe Natureza – e as consequências diretas disso.

Como defensora da igualdade, ela acha que as mulheres devem se levantar para fazer ouvir sua voz. “Eu acredito fortemente no poder das mulheres de causar mudanças positivas. Elas mostram mais empatia e são mais sensíveis do que os homens, e esses valores são essenciais para enfrentar os desafios globais.”

Claudete também vê inúmeras oportunidades para si mesma de contribuir para um futuro mais justo e sustentável. Seu sonho é criar o Instituto Claudete Costa, voltado para o apoio às comunidades vulneráveis e a promoção da justiça social. “Isso é minha vocação”, diz ela firmemente. Além disso, ela sente uma profunda motivação para compartilhar todo o seu conhecimento e potencial. “Por isso, quero me tornar uma influenciadora digital. Quero mostrar à minha comunidade que o progresso é possível. Sou a prova viva disso. Quando comecei, não tinha nenhuma educação. Agora, concluí o ensino médio e há pouco tempo começei minha graduação em pedagogia.”

Devemos nos permitir mudar

Para Claudete, conhecimento significa liberdade. “Quanto mais acesso você tem ao conhecimento, mais oportunidades tem dentro deste sistema desigual em que vivemos. E isso não vale apenas para o Brasil, mas para o mundo todo. É necessário educação e conhecimento para alcançar uma certa posição – e podemos alcançar muito mais do que pensamos. Contanto que não esqueçamos nossas raízes e mantenhamos nossa identidade.”

Depois de uma breve pausa, ela continua: “Devemos nos permitir mudar, crescer. Com a mente aberta, podemos entender melhor nossos semelhantes. Há um ditado bíblico que eu acho muito bonito: ‘O amor ao próximo faz a diferença e provoca mudanças’. O amor é o cerne de tudo. Se você carrega o amor no coração, onde quer que vá, quem quer que encontre, você fará a diferença.”

Você é uma mulher que está fazendo a diferença na área de mudança climática, desigualdade e/ou justiça social? Ou você conhece mulheres notáveis cujas histórias merecem ser compartilhadas? Por favor, não hesite em enviar-me uma mensagem.

Vamos celebrar as conquistas das mulheres e continuar lutando por um mundo mais inclusivo e igualitário.

Vamos fazer a diferença, uma história